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ABERTURA
por Dária Jaremtchuk
“Contar o tempo” reúne trabalhos de arte que apresentam formas diversas de percepção e apercepção sobre o tempo. A exposição parte da ideia de que o tempo não é um fluxo contínuo, homogêneo e mensurável. A experiência temporal tampouco é única, unidirecional e uniforme, pois as dimensões sociais, políticas, psicológicas e intelectuais interferem no que se compreende como tempo. Além disso, o tempo só pode ser conhecido de modo indireto, pela observação de mudanças e permanências, pelos eventos transformados em passado ou por repetições de diversas ordens.
O calendário oficial de 2022, com o entrecruzamento das efemérides do Bicentenário da Independência e dos 100 anos da Semana de Arte Moderna, contribui para que se observe a passagem do tempo de modo incomum. Comemorações históricas dessa magnitude requerem revisões críticas, balanços historiográficos e o restabelecimento de reputações, operações capazes de transformar as perspectivas sobre o passado. Embora não tratados diretamente, inúmeras obras expostas em “Contar o tempo” abordam de modo oblíquo a reverberação do imaginário moderno, do fracasso da modernização e do projeto de emancipação nacional no meio das artes.
Dessa forma, parece providencial tratar de tais efemérides em um contexto que provoca tantos deslocamentos radicais em relação à vivência do tempo e à compreensão do seu significado. A ideia da curadoria da exposição “Contar o tempo” foi promover um recorte que responda produtivamente a tal conjunção, ou, melhor dito, que lhe dê uma tradução que aproveite ao máximo o olhar potencializado e diferenciado sobre o passado que ela permite.
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